Por que o Livro Trabalhe 4 horas por semana ( The 4 hour week), tem se tornado uma leitura nociva para muita gente, na minha opinião.
Há cerca de uns 3 anos atrás, de tanto ver esse livro em listas de “gurus” e empreendedores digitais e também ter ficado sabendo o tanto que ele vendeu, resolvi deixar preconceitos de lado e também correr a leitura do livro “Trabahe 4 horas por semana – Fuja da Rotina, Viva onde Quiser e Fique Rico”. de Timothy Ferris. (<- link de afiliado)
Eu que na época estava em processo de aberura de CNPJ, trabalhava 10 horas por dia em média, com certeza comecei a leitura com pé lá atras e como mencionei, coberto de preconceito. Preconceito esse, que acabou se tornando um conceito formado, embora sim, tenha aproveitado algumas coisas legais e idéias interessantes do livro. O que realmente me incomodou na época e que ainda me incomoda até hoje e talvez tenha sido um dos motivos principais da escrita desse artigo, é que ele tem criado uma legião de pessoas que se compara com o autor da obra(Tim Ferris) e passam a crer que aquele é o único jeito de ser feliz como empreendedor, que sua vida será “um lixo”, um desperdício, se não for igual a dele. Conforme falei, sim, existem idéias boas no livro, só não sei se compensa o efeito negativo em meio as pessoas mais suscetíveis a esses tipos de gatilhos mentais manipuladores. (Do tipo que faz as pessoas que investem em pirâmides acharem que são super espertas e todo mundo que desenvolve um trabalho normal é um idiota.)
Trabalhe 4 Horas por semana – Por quê isso não é plenamente aplicável?
Da até pra dizer que o livro vendeu muito, porque o autor se propôs a escrever sobre um tema utópico que atingiu a fraqueza das pessoas que compraram: a vontade de serem ricas sem fazer nada. Mas ok, de repente isso seja um preconceito meu. Bom, a idéia expressa no título do livro é que se consiga focar no seu trabalho, terceirizar coisas rotineiras e que alguém possa fazer por você e se preocupe apenas com as tarefas que sejam impossíveis de serem delegadas. Assim, você efetivamente trabalharia cerca de 4 horas na semana.
O interessante é que essa idéia já não se sustenta, quando sabemos que o próprio Tim ferris dificilmente trabalha apenas essas 4 horas por semana, uma vez que ele usa as 4 para suas empresas, mas elabora suas palestras durante grande parte do tempo, ele só não chama isso de trabalho, mas grande parte de sua renda vem dessa atividade. Bom, ignorando isso e pensando em nossa realidade brasileira, a maioria dos tipos de trabalhos do nosso cotidiano, tendem ao fracasso se você terceirizar 100% e só aparecer 4 horas por semana para supervisionar. Pode até ser que o negócio continue por algum tempo, mas ele dificilmente irá crescer, se seu gerente/supervisor não receber uma porcentagem, pois caso contrário ele irá sair e montar seu próprio empreendimento. Além do que, existem certas atividades, em alguns tipos de negócios, onde por mais conservador que possa soar, é o “olho do dono que engorda o cavalo”.
Nem todo trabalho é um fardo
Ao contrário do que o Tim ferris tenta fazer parecer, não é por que você é funcionário que necessariamente está infeliz. A ausência de responsabilidade, de ter que gerenciar pessoas e poder “desligar” da empresa e esquecer que ela existe no fim de semana é libertador, mesmo para quem gosta do que faz. Sendo chefe isso não existe. O tipo de empreendedorismo sugerido por Tim não serve pra todo mundo, fato. Mas o que importa é vender livros, não? Conheço várias pessoas que não se adaptaram a viver de internet por exemplo, não tem o espírito empreendedor e nunca abandonaram a CLT. Ou mesmo abandonaram, mas voltaram a ela depois de um tempo. E não há nada de errado nisso, nenhum demérito, ao contrário dos que pregam os que endeusam esse livro.
O autor “indiretamente” prega que as pessoas sejam relaxadas, desinformadas, não busquem perfeição no que fazem e que deixe outras pessoas fazer tudo por você. Ora, nem todo mundo quer apenas o trabalho feito, muitas vezes o que move as pessoas é justamente fazer coisas bem feitas, até sem ligar tanto pra o dinheiro. Sim, dinheiro é bom,necessário, você gosta e eu também gosto, mas assim como ele encontrou prazer nas palestras que ele dá e em escrever livros, fazer um trabalho de qualidade pode ser o prazer da pessoa, daí é que pode estar vindo sua felicidade.
O “Way of life”, o “modo de vida prometido” é fora da realidade de 95% das pessoas
O método de vida que ele propôe, simplesmente não se aplica para a maioria da população. Você imagina um professor de escola estadual trabalhando 4 horas por semana? Um médico? Uma imagem frequente que vemos em anúncios que vendem a mesma mensagem desse livro, são pessoas trabalhando com notebook na praia ou piscina.Por que isso é ridículo:
-Já levou um notebook pra praia e tentou usar? Por melhor que seja a tela, não dá pra ver merda nenhuma no sol ou na sombra que seja!
– Se você está na praia, piorou, o vento e a areia vão lascar seu notebook e mandar ele pra oficina rapidinho.
-Ah e se a tal praia é no Brasil, piorou né? Com a bandidagem solta por aí, a chance que você volte pra casa sem ele é enorme, ainda mais se tiver o símbolo da “maçãzinha” que a bandidagem já vê de longe né?
Pois é gente, sinto desanimar vocês, mas isso só funciona em anúncios pega trouxa que vemos no Facebook. Já ate falei disso no artigo:
Coisas que ninguém te conta sobre trabalhar com Internet…
O autor ainda conta uns episódios da vida dele, onde ele não foi exatamente ético na época que participava de competições esportivas e embora aí já esteja entrando em outra seara, e vai muito dentro das minhas concepções pessoais, confesso que me incomodei com isso na leitura.Mas vamos nos ater ao principal.
Mas então, o Livro não tem nada de bom?
Claro que tem! Tem umas ideias bem legais sobre produtividade e foco, além de ideias interessantes sobre aproveitamento do tempo.Vamos por partes:
Foco
Uma analogia interessante do livro que nos ajuda a estabelecer prioridades é: se você tivesse uma doença grave que so lhe permitisse trabalhar 4 horas ao dia, o que você faria? Isso faria você mudar sua rotina e só fazer o que realmente gera resultados. Existem vários estudos que afirmam e provam que nosso trabalho de 8 horas está com os dias contados. Uma reportagem da revista Forbes afirma que a jornada de trabalho de oito horas é ultrapassada e ineficiente para a rotina de trabalho nos dias de hoje. E que a produtividade não tem tante ligação assim com as horas trabalhadas. Outra pesquisa, dessa vez da University College London comparou a saúde dos funcionário que trabalhavam até 55 horas semanais com os que faziam 35 a 40 horas, e o observado foi surpreendente. Os autores da pesquisa chegaram a conclusão de que longas jornadas de trabalho estão ligadas à problemas associados ao estresse, sendentarismo e aumento do risco de doenças cardíacas e não resultam em mais produtividade no trabalho. Assim, o livro também segue essa tendência, que realmente faz bastante sentido.
Mini Aposentadoria/ Mini Ferias
Quem não conhece aquele tio ou avô que trabalha igual um corno e faz planos para descansar depois que aposentar. Não preciso nem dizer que com as mudanças da previdência isso vai demorar e muito. E a grande questão é que ninguém sabe se vai chegar lá e não vai encontrar um caminhão na contramão na estrada ou vai ter um ataque cardícaco amanhã. Sem contar que ao envelhecer, não teremos o mesmo gás de hoje para fazermos viagens, caminhadas e etc. Por isso, a idéia do livro, de tirar “mini-férias” ao longo da vida, nem que sejam umas 4 vezes ao ano, faz muito mais sentido.
É algo que acabei absorvendo do livro e achei bem interessante.
Tercerização
Esse é um conceito que embora seja interessante, acho bem complicado de se aplicar no nosso país. Mas vamos lá, segundo o autor, se você encontra alguém que faz algo melhor que você no serviço da sua empresa, ou mesmo tem contato com profissionais que executam esse trabalho, por que não terceirizar? Sites como Workana, Fiver, estão sempre com muitas pessoas atrás de trabalho e é possível combinar um bom preço nesse modelo de negócio. Redatores, tradutores, designers, contabilidade,Videomakers, enfim, a gama de profissionais disponíveis é imensa. Isso te ajuda a focar no que realmente precisa de sua atenção e só pode ser feito por você. Interessante para quem trabalha com Internet e coisas afins, mas novamente falo: não se aplica a todas as áreas, ainda mais no Brasil.
Conclusão
Ao contrário do que possa parecer, não, eu não odeio esse livro nem o autor. Conforme demonstrei, até consegui tirar algumas coisas positivas dele. O problema é o endeusamento que se faz a essa obra e o estilo de vida que ele supostamente propõe, que faz com que uma legião de pessoas acredite que não viva uma vida plena ou feliz por não ser igual a do autor.Quando na realidade o autor é que é o “diferentão” , o “ponto fora da curva” . Não há que se comparar. Absorver algumas idéias é totalmente válido, ainda mais se isso te trouxer mais qualidade de vida e satisfação em seu trabalho.Mas não há por que se sentir menor por não ter o mesmo estilo de vida dele, nem todo mundo nasceu para empreender. E ao mesmo tempo, existem pessoas que dentro do seu trabalho na CLT tem muito mais espírito empreendedor e promovem muito mais inovação do que quem só abriu um cnpj para receber dinheiro de programas de afiliados e se acha o novo Marcos Lemonis ou empresário megapower do milênio. Pode ter certeza de que quem empreendeu de verdade trabalhou fácil 12 horas ou mais por dia durante meses/anos antes de ficar por aí sonhando em trabalhar 4 horas por semana.
Bom, só lembrando que o texto é minha opinião pessoal, por isso, sintam-se livres para discordar.
Ah, o livro tá em promoção na Amazon, quem quiser só clicar e comprar:
O que vocês acham? Concordam? Discordam? Contem aí nos comentários!
Referências e Fontes
Indiretamente, o texto possui algumas idéias já conversadas com os amigos: Joni oliveira, Nelson Schuck e Vinicius Viana
Algumas ideias que me inspiraram também vieram das críticas do livro na Amazon e dos sites: Mundo positivo e Vá mais Longe
Ótimo texto, Almy. Muita gente quer empreender começando do jeito mais fácil, ou seja, acreditando que é possível trabalhar pouco.